Um dos maiores intérpretes de Bach do mundo, João Carlos Martins, jamais conseguiria tocar piano novamente. Após ver uma entrevista em que o maestro “se despedia das mãos”, um professor e designer brasileiro ficou inconformado com a situação e teve uma ideia.
Em 2019, Ubiratan Costa, mais conhecido como Bira, formado em desenho industrial, de Sumaré, interior de São Paulo, criou as luvas “biônicas”, mesmo sem conhecer Martins pessoalmente. Posteriormente, elas passaram por ajustes e foram aperfeiçoadas e já estão na sexta versão. Para conseguir o modelo ideal, o designer analisou inúmeros vídeos da época que o artista era capaz de tocar 21 notas por segundo, considerado um dos mais rápidos pianistas do mundo. Depois, estudou a dinâmica e a força empreendida por cada dedo para que a invenção pudesse de adequar perfeitamente. Atualmente, Bira busca investimento para produzir o equipamento em escala industrial.
Criativo e talentoso, o inventor descreve para o site Neofeed: “O que eu fiz foi uma luva mecânica. Adaptei a ela uma lâmina de aço, baseada no princípio de feixe de mola, que fez com que os dedos do maestro tivessem o movimento necessário de toque e recuo sobre as teclas. Resumindo, é isso.”

Aos 80 anos de idade e mais de 60 anos de carreira, o pianista e maestro passou por 24 cirurgias em decorrência de acidentes e distúrbios osteomusculares. Em 1998, foi o último ano que João Carlos Martins tocou piano com os dez dedos e passou a ser maestro. Porém, o abandono nunca foi completo, quando era convidado para se apresentar conseguia apenas tocar as teclas com os polegares.

As luvas biônicas puderam devolver os movimentos aos dedos, depois de anos de limitações, além de possibilitar que o maestro não abandonasse sua antiga paixão. Agora, retomou os estudos para poder tocar novamente e, inclusive, realizar concertos quando for possível.

Para o site BBC, Martins disse: “Hoje, cada nota que eu toco no piano que eu toco, eu costumo colocar o coração para trazer emoção, o cérebro para ter o conceito da música, e alma para que alguma coisa diferente chegue no coração de quem está ouvindo”.
As duas histórias inspiram e comovem: a superação do pianista e maestro diante das adversidades e o empenho e a empatia do professor que dedicou parte do seu tempo e sua invenção para ajudá-lo a não desistir.
Vejo o vídeo: