84 especialistas formaram um júri que escolheu os livros mais relevantes das duas primeiras décadas do século
O que faz um grande livro? A resposta a essa pergunta provavelmente é diferente para cada pessoa, mas é inegável que algumas obras trazem consigo a força de marcar seu tempo – e mesmo de superá-lo. O crítico Northorp Frye define a “grande literatura” como aquela que é “dona de uma visão sempre mais vasta do que a de seus leitores”.
Fazer uma lista, qualquer que seja, envolve o risco de deixar de fora algo que mereceria menção. Não é diferente no caso dessa lista, que definiu os melhores livros dos primeiros 20 anos do século XXI; é possível que alguma grande obra tenha ficado de fora. Mas é certo também que as obras que de fato encontram-se listadas são obras essenciais e marcantes deste início de século. Confira, abaixo, os 100 melhores livros do século XXI até o momento!
1- 2666, de Roberto Bolaños
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Fiel aos dois principais temas que atravessam toda a obra do autor chileno – violência e literatura -, o livro é composto de cinco romances, interligados por dois dramas centrais: a busca por um autor recluso e uma série de assassinatos na fronteira México-Estados Unidos.
A primeira história narra a saga de quatro críticos europeus em busca de Benno von Archimboldi, um escritor alemão recluso do qual não se conhecem fotos. Na segunda, há a agonia de um professor mexicano às voltas com seus problemas existenciais. O terceiro romance conta a história de um jornalista esportivo que acaba se envolvendo com crimes cometidos contra mulheres da cidade de Santa Teresa, no México (ficcionalização de Ciudad Juárez). Na quarta e mais extensa das partes do livro, os crimes de Santa Teresa são narrados com a frieza e o distanciamento próprios da linguagem jornalística das páginas policiais. E finalmente, na quinta história o leitor é conduzido de volta à Segunda Guerra, tornando-se testemunha do passado misterioso de Benno von Archimboldi.
2- O ano do pensamento mágico, de Joan Didion
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As frases iniciais de “O Ano do Pensamento Mágico” dão o tom exato da narrativa densa e contagiante que será compartilhada com o leitor: “A vida se transforma rapidamente. A vida muda num instante. Você se senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente”. Sem uma gota de autopiedade e com um estilo envolvente e emocionante, Joan Didion, uma das mais aclamadas escritoras e intelectuais americanas, narra o período de um ano que se seguiu à morte de seu marido, o também escritor John Gregory Dunne, e a longa doença de sua única filha. Feito com uma contagiante dose de sinceridade e paixão, “O ano do pesamento mágico” nos revela uma experiência intensamente pessoal e, ao mesmo tempo, universal. Uma história que falará alto a quem ama ou já amou alguém, com a profundidade que as grandes relações têm, sejam elas entre pais e filhos ou entre companheiros de uma vida. Este é um livro para todos os que já se perguntaram: E agora? O que fazer se a vida parece não ter mais sentido algum? É um livro sobre a superação e sobre a nossa necessidade de atravessar – racionalmente ou não – momentos em que tudo o que conhecíamos e amávamos deixa de existir
3- Austerlitz, W. G. Sebald
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O professor Jacques Austerlitz explora a estação ferroviária de Liverpool Street, em Londres, coletando material para suas pesquisas, quando é subitamente tomado por uma visão retrospectiva que talvez o ajude a explicar, não tanto a arquitetura da era capitalista, seu campo de estudos, mas sim o sentimento incômodo de ter vivido sempre uma vida alheia. A partir dessa experiência, suas andanças pelas ilhas britânicas e pelo continente europeu, sua mania fotográfica e sua memória minuciosa ganham ímpeto bem mais que acadêmico: Austerlitz passa a reconstruir a própria história, descobrir a própria biografia.
Para cumprir essa tarefa – ou esse destino – o herói do romance terá de ir e vir entre várias décadas, muitos países e os cenários mais díspares: um lar protestante no interior de Gales, um internato britânico, uma biblioteca em Paris, fortificações, palácios, campos de concentração, monumentos e banheiros públicos.
No fim dessa viagem – que converterá a biografia mais íntima do professor inglês em cifra da história européia no século XX -, está o momento em que tudo começou, com outros nomes, em outra língua, numa outra estação ferroviária, quando os horrores da Segunda Guerra e do Holocausto começavam a se anunciar.
Explorando temas como a perda, o desolamento e a inquietude mental, e misturando gêneros como as memórias, a história e a literatura de viagem, a prosa de Sebald foi imediatamente saudada no mundo todo por desafiar os limites da ficção. Como em todos os seus romances, o texto de Austerlitzé também costurado por uma série de fotografias quase enigmáticas: objetos, cartões-postais e lugares não identificados não são meras ilustrações da história – através delas, o autor parece sugerir algo mais.
4- La belleza del marido, de Anne Carson
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Anne Carson (1950) abordou em The Beauty of the Husband o conflito desencadeado por sua separação. “Há neste poemário”, escreveu o crítico Ángel Rupérez em 2003, “uma tensão entre a idealização inicial do marido (…) e o colapso desse ídolo que consegue exceder em muito o anedotário mais estritamente autobiográfico e confessional, constantemente transformado em matéria poética contaminada por uma respiração lírica contínua e subterrânea –não explícita– feita de elegia contida e crença incondicional na beleza”.
5- A Festa do Bode, de Mario Vargas Llosa
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A festa do Bode é um dos romances mais importantes de Mario Vargas Llosa. Com uma pesquisa histórica rigorosa e uma preocupação flaubertiana pelos detalhes, ele recria uma República Dominicana de meados do século XX para recontar a história do general Rafael Leonidas Trujillo Molina – o “Bode” – e a implacável ditadura que implantou no país durante seus 31 anos de governo. Ao entrelaçar três histórias – a volta de Urania a Santo Domingo, após 35 anos, para visitar o pai doente; o círculo mais próximo a Trujillo, com suas intrigas e execuções; e um grupo de insurgentes que prepara um atentado ao ditador -, Vargas Llosa relata o fim de uma era e discute a natureza insaciável dos regimes totalitários.
6- Reparação, de Ian McEwan
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Na tarde mais quente do verão de 1935, na Inglaterra, a adolescente Briony Tallis vê uma cena que vai atormentar a sua imaginação: sua irmã mais velha, sob o olhar de um amigo de infância, tira a roupa e mergulha, apenas de calcinha e sutiã, na fonte do quintal da casa de campo. A partir desse episódio e de uma sucessão de equívocos, a menina, que nutre a ambição de ser escritora, constrói uma história fantasiosa sobre uma cena que presencia. Comete um crime com efeitos devastadores na vida de toda a família e passa o resto de sua existência tentando desfazer o mal que causou.
7- Lomónov, de Emmanuel Carrère

Emmanuel Carrère (Paris, 1957) construiu seu próprio gênero, no qual mistura autobiografia com o retrato de personagens insólitos. Foi assim que o autor definiu seu protagonista em 2013: “Ele era um pilantra na Ucrânia, um ídolo do underground soviético, um mendigo e depois um mordomo de um milionário em Manhattan; escritor em Paris, soldado nos Bálcãs e, agora, no imenso bordel do pós-comunismo na Rússia, velho chefe carismático de um partido de jovens desesperados. Ele se vê como um herói, mas também pode ser considerado um descarado: não me atrevo a julgá-lo”
8- Seu Rosto Amanhã, de Javier Marías
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O narrador de Seu rosto amanhã é um ex-professor da Universidade de Oxford que, depois de se separar da mulher, resolve voltar à Inglaterra. Guiado por outro professor aposentado, ele encontra um grupo de velhos espiões do núcleo do Serviço Secreto britânico que atuaram contra o nazismo durante a Segunda Guerra. Surpreendentemente, eles continuam na ativa, mas com novo e misterioso objetivo.
O narrador é descoberto pelos espiões, que reconhecem nele o mesmo dom (ou maldição) que possuem: a capacidade de prever traições ao surpreender em rostos e gestos o comportamento futuro das pessoas. Sem saber exatamente por quê, o ex-professor começa a trabalhar para o grupo.
Com grande engenhosidade, a narrativa segue no limite entre humor e reflexão. Toda a trama de Seu rosto amanhã se baseia na desconfiança. O passado dos que foram traídos e delatados precisa ser reescrito. A irônica advertência inicial do romance de que “ninguém deveria contar nada nunca” não é (e nem poderia ser) seguida pelo narrador. Se contar é o ofício dos delatores, também é a razão de ser da literatura. “O relato nos afeta mais do que os fatos, mesmo o relato do que nunca ocorreu.”, escreve Javier Marías.
9- Borges, de Adolfo Bioy Casares

“Das 20.000 páginas de cadernos íntimos que Bioy (1914-1999) escreveu ao longo de sua vida, seu relacionamento com Borges ocupa 1.700″, explicou Javier Rodríguez Marcos em um texto de 2006. São as que ele preparou para este volume antes de morrer: “Embora o livro se estenda entre 1931 e 1989, Bioy resume os primeiros 15 anos em uma dezena de páginas. Claro, brilhantes. Os diários borgianos de Bioy estão cheios de literatura”. Borges disse que a relação entre eles era de uma profunda amizade “sem intimidade”, cuja pedra angular eram os livros.
10- Verão, de J. M. Coetzee
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Nesta obra de extrema originalidade, um jovem biógrafo inglês trabalha num livro sobre o falecido escritor Nobel de Literatura John Coetzee. O seu projecto é concentrar-se nos anos entre 1972 e 1977, época em que Coetzee, então na casa dos 30, compartilhava com o pai viúvo uma degradada casa rural nos arredores da Cidade do Cabo. Finalista do Booker Prize 2009. Novo lançamento do premiado autor sul-africano J. M. Coetzee (Nobel de 2003), Verão é o terceiro livro da trilogia Cenas da vida na província, composta também por Infância e Juventude. Coetzee lança mão de artifícios narrativos refinados para compor um relato de ficção autobiográfica, construído de maneira múltipla e indireta. Quem estrutura a história é um pesquisador inglês, Vincent, interessado na vida de John Coetzee, autor que já morreu. Para escrever a biografia de Coetzee, Vincent recorre a outras fontes: os Cadernos do autor, com anotações autobiográficas, e entrevistas com pessoas que o conheceram. O biógrafo concentra-se nos anos 1970, período que precede o reconhecimento literário do jovem John Coetzee, então nos seus trinta anos. Nesse momento de maturação do jovem, vivia-se a plena vigência do apartheid, e John Coetzee retornava de uma temporada nos Estados Unidos. John tem de se readaptar a um país em estado social convulsivo, ao convívio com a família tradicional, de ascendência africânder, e às desconfianças com relação ao seu comportamento excêntrico. Os limites entre ficção e autobiografia se esgarçam nesta obra e permitem que o autor sul-africano componha um retrato admirável de si próprio, em que fala sobre suas limitações e seus desejos, sobre suas posições políticas, filosóficas, pedagógicas e estéticas. Neste excepcional Verão, não há espaço para vaidade ou autocomiseração. Ao contrário, imperam o senso crítico, a autoironia e a inventividade literária.
11- Minha Luta, de Karl Ove Knausgård
12- Persépolis, de Marjane Satrapi
13- A Estrada, de Cormac McCarthy
14- Crematório, de Rafael Chirbes
15- Dentes Brancos, de Zadie Smith
16- Manual da Faxineira: contos escolhidos, de Lucia Berlin
17- Zurita, de Raúl Zurita
18- Pós-guerra: uma história da Europa desde 1945, de Tony Judt
19- Soldados de Salamina, de Javier Cercas
20- O Fim do Homem Soviético, de Svetlana Aleksiévich
21- A Lebre com Olhos de Âmbar, de Edmund de Waal
22- O Grande, Juan José Saer
23- Não me Abandones Jamais, Kazuo Ishiguro
24- Anatomia de um Instante, Javier Cercas
25- Felicidade Demais, Alice Munro
26- Tábula Rasa, Steven Pinker
27- Os Anos, Annie Ernaux
28- Hurricane Season, Fernanda Melchor
29- Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, Yuval Noah Harari
30- Kafka à Beira-Mar, Haruki Murakami
31 – El Nervio Óptico, María Gainza
32- Anos de Formação: Os Diários de Emilio Renzi, Ricardo Piglia
33- O Romance Luminoso, Mario Levrero
34- Na Presença da Ausência, Mahmud Darwish
35- Incêndios, Wajdi Mouawad
36- Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, Daniel Kahneman
37- As Correções, Jonathan Franzen
38- O Adversário, Emmanuel Carrère
39- A Marca Humana, Philip Roth
40- Canadá, Richard Ford
41- Elizabeth Costello, J. M. Coetzee
42- Terror e Utopia, Karl Schlögel
43- Lectura Fácil, Cristina Morales
44- Las Poetas Visitan a Andrea del Sarto, Juana Bignozzi
45- Ordesa, Manuel Vilas
46- Distância de Resgate, Samanta Schweblin
47- La Noche de los Tiempos, Antonio Muñoz Molina
48- Teoria King Kong, Virginie Despentes
49- The Blazing World, Siri Husvedt
50- Os Testamentos, Margaret Atwood
51- Americanah, Chimamanda Ngozi Adichie
52- Diccionario de autores latinoamericanos, César Aira
53- Experience, Martin Amis
54- Pátria, Fernando Aramburu
55- A Worldly Country: New Poems, John Ashbery
56- Fun Home, Alison Bechdel
57- Gênio: os 100 autores mais criativos da história da literatura, Harold Bloom
58- Vida precária, Judith Butler
59- El día del Watusi, Francisco Casavella
60- Reveries of the Wild Woman: Primal Scenes, Hélène Cixous
61- Homem lento, J. M. Coetzee
62- A contraluz, Rachel Cusk
63- A fantástica vida breve de Óscar Wao, Junot Díaz
64- Jamais o fogo nunca, Diamela Eltit
65- El olvido que seremos, Héctor Abad Faciolince
66- Un ángulo me basta, Juan Antonio González Iglesias
67- The Swerve, Stephen Greenblatt
68- O tecido do cosmo, Brian Greene
69- Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, Yuval Noah Harari
70- Trabajos del reino, Yuri Herrera
71- Submissão, Michel Houellebecq
72- A possibilidade de uma ilha, Michel Houellebecq
73- A Doutrina Do Choque, Naomi Klein
74- La casa de la fuerza, Angélica Liddell
75- Berta Isla, Javier Marías
76- Asterios Polyp, David Mazzucchelli
77- Necropolítica, Achille Mbembe
78- C, Tom McCarthy
79- Aqui, Richard McGuire
80- Tudo o que Eu Tenho Trago Comigo, Herta Müller
81- A Fugitiva, Alice Munro
82- Suite francesa, Irène Némirovsky
83- Faithless: Tales of Transgression, Joyce Carol Oates
84- Stag”s Leap: Poems, Sharon Olds
85- O Capital no Século XXI, Thomas Piketty
86- Un apartamento en Urano, Paul B. Preciado
87- Diccionario sánscrito-español. Mitología, filosofía y yoga, Òscar Pujol
88- Retaguardia roja, Fernando del Rey
89- Complô contra a América, Philip Roth
90- Harry Potter e o enigma do Príncipe, J. K. Rowling
91- A última noite, James Salter
92- Clavícula, Marta Sanz
93- O Artífice, Richard Sennett
94- La estupidez, Rafael Spregelburd
95- A poesia do pensamento, George Steiner
96- O Preço da Desigualdade, Joseph Stiglitz
97- Os Vagantes, Olga Tokarczuk
98- Rien ne s”oppose à la nuit, Delphine de Vigan
99- Consider the Lobster, David Foster Wallace
100- Building Stories, Chris Ware
Esta lista foi retirada de matéria do jornal El País. As sinopses foram retiradas do site Skoob.