Não importa se você gosta ou não da ex-presidenta Dilma Rousseff, um fato é que ela é uma política com bastante estudo e que entende sobre os principais momentos da história do Brasil e do mundo. Militante da esquerda, na época de enfrentamento à ditadura militar, Dilma se juntou aos guerrilheiros e acabou presa e torturada. O amor à literatura, então, passa a ser também parte de um engajamento político, de tentativa de compreender as injustiças do mundo.
Mas o que lia e lê Dilma Rousseff? Segundo matéria da Veja, a ex-presidenta tem fama de leitora contumaz. Desde a adolescência, época em que era incentivada pelo pai a fazer leituras periódicas, até o auge do desgaste político, quando sofreu um processo de impeachment, a petista sempre estava acompanhada de livros. Tem uma “coleção” deles em seu apartamento, no bairro Tristeza, em Porto Alegre, e gosta de desafiar – e se gabar – de ter lido mais do que qualquer interlocutor, seja ele quem for. Em raros momentos de descontração no governo, discutia o que estava lendo e alfinetava jornalistas que supostamente pouco recorriam à literatura. “Nunca leram Mark Twain”, provocou certa vez.
Confira alguns livros que mudaram a vida de Dilma Rousseff:
Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade, de Jane Austen
Pouco antes de sofrer o impeachment, em maio de 2016, Dilma Rousseff ostentava em sua mesa uma caixa com a obra da romancista inglesa Jane Austen – em inglês. Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade, clássicos da autora, Dilma se dedicava aos livros à noite, após o expediente, no Palácio da Alvorada.
A petista tem o hábito de ler antes de dormir. Publicamente, ela já comentou, em aparente ironia, como o russo Fiodor Dostoievski era “chatíssimo” e como venera as obras do psicanalista alemão Sigmund Freud.
Grande Sertão Veredas e Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, é sua obra preferida. Manuelzão e Miguilim, do mesmo Guimarães Rosa, também está entre os seus livros mais queridos. Ao Globo, ela contou sua preferência:
Fica difícil dizer qual o livro que mais me marcou, foram muitos. Sempre gostei muito de ler, e desde criança, meu pai nos incentivou a ler, abrindo esse mundo da leitura para nós. Entre as obras que mais me marcaram está a de Guimarães Rosa, sobretudo “Grande sertão: veredas”, que acho inigualável. Nasci em Minas, tenho visitado muito o estado nessa campanha, então me vêm à cabeça muito dos livros de Guimarães Rosa, da sua linguagem inovadora, da forma como ele entendeu e descreveu a região, o povo.
O Homem que Amava os Cachorros, Leonardo Padura
Dilma ganhou de presente de Marco Aurélio Garcia, ex-assessor, o romance policial O Homem que Amava os Cachorros, do cubano Padura. O livro conta três histórias entrelaçadas com “forte reflexão de temas caros à esquerda no século passado”, segundo Garcia. A obra, que retrata em versão romanceada os planos para o assassinato do líder russo Leon Trotski e a história de seu algoz, Ramón Mercader, tornou-se uma espécie de clássico.
O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa
O já clássico do angolano Agualusa é outro citado pela ex-presidente como um de seus autores preferidos, como destacado pela Folha. O romance conta a história de Félix, um albino que mora em Luanda, Angola, e faz árvores genealógicas em troca de dinheiro. Um vendedor de passados falsos. A história é narrada por uma curiosa osga (lagartixa), que convive traumaticamente com as lembranças de sua existência humana e luta diariamente para compreender vestígios de emoções antigas.
A literatura do escritor angolano merece ser conhecida. Seus outros romances também misturam conflitos sociais, fantasia e realidade e personagens exóticos.
Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust
Mais uma vez mencionando Dostoiévski, mas sem citar quais livros, Dilma apontou, ao Globo, o clássico de Proust como também entre os seus preferidos.
— Sempre gostei muito de Dostoiévski… Proust também. De vez em quando pego algum volume de “Em Busca do Tempo Perdido” para reler…
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago
Em um vídeo publicado na página da Fundação José Saramago, no Facebook, a ex-presidente Dilma Rousseff aparece lendo o trecho final do romance “O evangelho segundo Jesus Cristo”, do autor português, vencedor do Prêmio Nobel. Quem destaca isso é o jornal o Globo. Antes do início da leitura, a ex-presidente comenta:
– Não é nenhuma dificuldade para mim (a leitura) porque eu gosto demais desse livro.
O trecho final começa com as frases: “E Jesus morre, morre. E já vai deixando a vida quando de súbito o céu por cima de sua cabeça se abre de par em par. E Deus aparece vestido como estivera na barca”.
No encerramento, a ex-presidente afirma: “José é fundamental”.