Um caso raro nas republicações: Um clássico da poesia em edição que valoriza o livro original
As Primaveras foi o livro mais publicado e mais vendido da poesia brasileira até início do séc. XX — mesmo repleto de alterações, que a nova edição descarta para mostrar os poemas como foram pensados pelo autor.
O “poeta do amor e da saudade” viveu pouco, mas deixou um importante trabalho literário. Quando Casimiro de Abreu lançou As Primaveras, que viria a ser seu único livro, ele tinha apenas 20 anos, publicava poesia em jornais pelo menos desde os 17 e vinha de uma longa temporada em Portugal – onde ficou, contra a vontade, aprendendo a cuidar dos negócios da família.
Menos de um ano após o lançamento, o poeta morreu, muito jovem e sem ver o sucesso que seu livro teria nos anos seguintes, tornando-se um marco do Romantismo e sendo o livro de poesia mais editado do Brasil pelo menos até o início do Modernismo — com diversas edições em Portugal também.
A partir de 1870, as edições d’As Primaveras começaram a ser publicadas com alterações na estrutura, na ordem dos poemas e até em alguns títulos. Essas modificações são adotadas pela maioria das edições até hoje e tornaram-se o padrão quando se trata da obra do autor.
O volume preparado pela Isto Edições foi pensado para ser o mais fiel possível ao original – mesmo com atualização ortográfica: contamos com a colaboração da professora, pesquisadora e filóloga Elsa Pereira, da Universidade de Lisboa, que nos auxiliou no estabelecimento do texto em seus detalhes – e ainda escreve nosso posfácio, um artigo que fala exatamente sobre as modificações que o livro sofreu depois da morte de Casimiro.
Na última parte desta edição, temos os poemas esparsos do poeta (tradicionalmente publicados junto com As Primaveras desde finais do século XIX), com indicação de fontes e datas originais.
Sobre o autor:
Casimiro nasceu em 1839, no interior do estado do Rio de Janeiro, filho de um rico comerciante português. Ainda adolescente foi levado pelo pai para a capital e depois para Portugal para aprender sobre negócios – assunto que o poeta abominava.
Em seus versos ele trata sobre saudade da sua terra, da sua infância, e sobre seus amores sofridos e não correspondidos.
“Dos poetas da sua geração, é Casimiro de Abreu, talvez mais que outro qualquer, o poeta do amor e da saudade. Os dois sentimentos são a alma da sua poesia”, diz o crítico e escritor José Veríssimo em capítulo do seu clássico História da Literatura Brasileira, que temos em nosso prefácio.
Um dos expoentes da segunda geração do Romantismo brasileiro, o poeta morreu aos 21 anos, vítima da tuberculose. A cidade de Indaiaçu, no Rio de Janeiro, onde veio a falecer (e onde alguns defendem que ele também nasceu), hoje é chamada por seu nome: Casimiro de Abreu.
Destaques do livro:
Seu poema mais conhecido hoje em dia é “Meus oito anos”, dos versos:
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Alguns dos seus poemas eram de grande popularidade até o início do século XX, como “Amor e medo”, “Minh’alma é triste” e “A valsa”. Este último, poema de versos dissílabos que abre com esta estrofe:
Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co’as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa,
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranquila,
Serena,
Sem pena
De mim!
As primaveras e outros poemas
Autor: Casimiro de Abreu
Isto Edições – Porto Alegre – 2021
Capa dura – 176p. – 16x23cm
ISBN 978-65-995966-1-2