Daiane Souza da Costa, 20 anos, residente em Limoeiro, Pernambuco, foi surpreendida com a divulgação da nota mil na prova de redação no Enem. Ela contou em entrevista ao Uol que resolveu iniciar a dissertação fazendo referência a um dos títulos clássicos da literatura nacional, Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
Ao ver o tema da redação na prova “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”, a jovem se lembrou da narrativa e dos personagens.
“Minha professora havia falado no livro em que o personagem principal, Fabiano, não deu nome aos filhos —eles os chama de filho mais velho e filho mais novo. Ele dá o nome da cachorra (Baleia), mas não dá nome aos filhos. A professora deu uma introdução sobre isso, falou sobre a cidadania”, afirmou a estudante.
Vale lembrar que o livro, publicado pela primeira vez em 1938, retrata a vida de uma família de retirantes que se desloca pelo sertão nordestino para fugir da miséria e da seca. Além de Vidas Secas, ela também citou o historiador José Murilo de Carvalho.
“A primeira coisa que me veio à mente foi: esses filhos sem nome é reflexo de crianças que não têm acesso ao registro civil. Fiz essa associação na introdução da redação para chamar, de cara, a atenção do corretor, mostrar que estudo literatura, que tenho repertório específico”.
Como mora no interior, Daiane contou que após terminar o ensino médio em 2019, na escola Pentágono, preferiu fazer a preparação à distância. Com 8 a 9 horas diárias de estudo e muito treinamento, com a escrita de uma redação por semana, ela atribuiu sua boa nota em redação à professora Fernanda Pessoa, do Recife, que tem um curso online de redação, linguagem e interpretação de texto, literatura e gramática. Também destacou que a professora trabalhou muito com essas temáticas que falam sobre cidadania e direitos das pessoas.
Ela quer cursar Medicina, por isso sabia que tinha que se dedicar bastante. Seu histórico sempre teve boas notas nas redações do Enem: em 2019, tirou 960, em 2020, 980 e, agora, a nota máxima. Ela revelou que se mantém confiante: “Independente de servir ou não, essa nota mil serve como uma motivação, mostra que estou no caminho certo. Caso não consiga entrar, mesmo que seja com uma bolsa em uma universidade particular, vou seguir estudando até passar”.