Joselino Barbacena, personagem vivido por Antonio Carlos Pires, criado em parceria com Chico Anysio, satiriza em forma de protesto e humor um homem aparentemente de saúde e capacidade mental duvidosa.
O que passou despercebido pela maioria dos espectadores da Escolinha do Professor Raimundo, foi a origem sombria do personagem. Barbacena, cidade do interior de Minas Gerais ainda é conhecida como a “cidade dos loucos”, por ter sediado o maior hospital psiquiátrico do Brasil, o Centro de Taramento Hospitalar e Psiquiátrico de Barbacena (mais conhecido como Colônia), palco de uma das maiores tragédias humanitárias da história do país.
O Sr. Joselino Barbacena, cujo ator era o pai da atriz Glória Pires. Ele sempre respondia às perguntas que lhe eram formuladas de maneira mais estapafúrdia e inverossímel que se pode imaginar. Iniciava dizendo: “Quando eu era criança pequena lá em Barbacena, ouvia dizer que isso daí…”, ou então “Ai, meu Jesus Cristinho…já me encontrou aqui outra vez…”
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Hospital inspirou o livro Holocausto Brasileiro
Em seu livro “Holocausto Brasileiro”, Daniela Arbex denuncia a morte de 60 mil brasileiros internos do Colônia entre 1930 e 1960, muitos internados sem diagnóstico, apenas à mando daqueles a quem interessava sua prisão. Levado a cabo em todos os sentidos de horror, sofrimento e morte aos quais cabem à expressão.
No Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, conhecido apenas por Colônia, ocorreu uma das maiores barbáries da história do Brasil. O centro recebia diariamente, além de pacientes com diagnóstico de doença mental, homossexuais, prostitutas, epiléticos, mães solo, meninas problemáticas, mulheres engravidadas pelos patrões, moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento, mendigos, alcoólatras, melancólicos, tímidos e todo tipo de gente considerada fora dos padrões sociais.
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Essas pessoas foram maltratadas e mortas com o consentimento do Estado, médicos, funcionários e sociedade. Apesar das denúncias feitas a partir da década de 1960, mais de 60 mil internos morreram e um número incontável de vidas foi marcado de maneira irreversível.
Daniela Arbex entrevistou ex-funcionários e sobreviventes para resgatar de maneira detalhada e emocionante as histórias de quem viveu de perto o horror perpetrado por uma instituição com um propósito de limpeza social comparável aos regimes mais abomináveis do século XX. Um relato essencial e um marco do jornalismo investigativo no país, relançado pela Intrínseca com novo projeto gráfico e posfácio inédito da autora.
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